Com cinco anos, fui morar na rua Gonçalves Dias, no bairro Perpétuo Socorro, zona norte de Santa Maria. No local, cresci e aprendi o valor das amizades e da convivência entre as pessoas. Estudei, com muita honra, da 1ª à 5ª série na Escola Perpétuo Socorro. Adorava ir com a turma do colégio na antiga 3ª Companhia de Comunicação - 3ª Cia Com - fazer educação física sob o comando do competente professor Ivon Chagas da Rocha Junior. Andei muito, também, pelas ruas Fernandes Vieira, Castro Alves, Borges do Canto, Pedro Gauer, João Lobo D'Avila, Casemiro de Abreu e Sete de Setembro.
Com surpresa e tristeza, vejo o fechamento da tradicional Rua Sete. E não estou aqui para julgar quem tem culpa. Os mais prejudicados, isso, sim, eu ouso afirmar, são os moradores e os comerciantes da região. As justificativas, no momento, não serviram para evitar o fechamento da Rua Sete. O tal do "empurra com a barriga" teve sequência por quase 15 anos e a "bomba explodiu" agora. Jamais ouvi de qualquer governante, na época da obra do túnel da avenida Rio Branco e após a inauguração, que algo deveria ser feito para dar mais segurança na travessia de trens e evitar um possível fechamento da Rua Sete de Setembro. Foi sonegado da opinião pública santa-mariense que o acordo entre Prefeitura de Santa Maria e governo federal abordava isso. O que se dizia era que, com o túnel, o trânsito de veículos na rua Sete de Setembro ficaria desafogado. Afinal de contas, dois acessos estariam disponíveis para a população.
Numa postagem com foto, na qual a Rua Sete de Setembro aparece trancada no sentido Centro-bairro, o policial federal aposentado Sérgio Silva foi direto e objetivo na sua rede social: "Muito triste essa foto, lembra o gueto de Varsóvia, faltando somente o muro, que, com certeza, a permanecer a decisão, virá com solidez. Até a guarda apareceu. Uma foto que mostra toda a irresponsabilidade e falta de planejamento, quando se acorda algo sem a consulta popular. Um acordo totalmente irresponsável, que agora vem causar transtorno, tristeza e prejuízos a todos os moradores da nossa região. Me criei subindo e descendo a Rua Sete, às vezes, quase sempre atrasado, esperando o trem passar. Hoje, por enquanto, o trem é vencedor, vai passar. Nós, moradores, não passaremos mais, muito menos com nossos carros, comprados com o esforço do nosso trabalho, sem acertos e conchavos. É inconcebível que, em pleno século XXI, ano 2019, uma rua seja fechada, proibindo, privando o cidadão de bem de transitar, de chegar ao seu lar, pela rua que andou toda uma vida e que pela manutenção da qual paga impostos. Será que valeu a pena trocarmos a Rua Sete pelo viaduto da avenida Rio Branco? Viaduto muito bom para o transitar de carros, mas quase que inviável para o trânsito de pedestres, devido a uma calçada, estreita e esburacada, e uma péssima iluminação. Segurança para o transeunte? Nenhuma. Valeu a pena? Fechamento de ruas? Só em tempo de guerras ou guerrilhas. Hoje, somos vítimas do 'canetaço'."
O problema está criado e a comunidade do bairro Perpétuo Socorro e adjacências - moradores e comerciantes - paga o preço por ações mal esclarecidas em um passado não muito distante. Por dever público, bom senso e respeito aos cidadãos, as forças políticas de Santa Maria devem dialogar entre si e com as partes envolvidas no assunto: o único objetivo é buscar alternativas para reverter a decisão do Dnit e da Justiça. Até agora, o fechamento da rua Sete de Setembro tem só perdedores e é mais um triste capítulo, assim como foi o da privatização da RFFSA, que entra para a história da cidade. Isso em pleno 2019.